Hei de ser raio de incerteza incendiando pontes,
Hei de ser dedo sujo escrevendo nas paredes que a vida não presta
Hei de pintar com sol meu peito nu e arranhar a cara dos preconceitos.
Hei de ser pés perdidos sobre a pedra, olhos multiplicados pelo medo...
Hei de ser nuvem e navalha, hei de cortar e flutuar
Hei de ser bandeira hasteada na praça vazia,
Bruxa devoradora de crianças,
Choro na noite, açoite, agonia,
Caveira de ossos brancos...
Hei de ser prisão, algemas, morcego de cinema, namorada,
Lágrima quieta riscando o rosto.
Hei de ser rei deposto, presidente assassinado,
Música triste que ninguém ouviu,
Sandália fora de moda que ninguém usou...
Hei de ser poema para a amada morta,
Porta fechada, jardim cheio de urtiga e de formiga,
onde uma flor nasceu, sem ser plantada ou ser colhida.
Hei de ser fantasma e passarinho, guarda noturno e borboleta,
Rosa preta e sem perfume, chapéu de palha que o vento levou...
Hei de ser trapo de alegria,
A mente que duvida,
O homem que drescrê
...Hei de ser tudo, nada, qualquer coisa,
para não ser mais"eu sem você"!!