Eu sempre misturo minha poesia com pães e
tantas outras delícias,
porque a alma também precisa de alimento.
Rindo, eu concordo que a minha
poesia não é de primeira qualidade, mas ela é orgânica, pelo menos.
Eu gosto de experimentar, eu gosto de testar e ampliar o meu universo
com sabores, cores e perfumes, e um dos meus perfumes prediletos é do limão.
Quando um limão exala o seu perfume, eu sinto que os meus pés saem
do chão, e os limoeiros da minha infância, alinhados ao redor do sítio dos meus avós,
me carregam para um paralelo universo.
Em fila, eles se apresentavam: limão siciliano,
limão galego, limão rosa, limão taiti.
Em minha infância, quando eu estava muito cansada ou machucada,
depois de um frequente espancamento, eu subia até o meu exército de limoeiros,
e lá eu chorava e cheirava as folhas e os frutos dos limões, e aquele cheiro
me acalmava. Eu não me sentia mais tão sozinha. Eu me sentia acolhida.
Por isso, o perfume do limão desperta todos os perfumes das minhas afetivas memórias...
Não tem cheiro e nem sabor a solidão!
Eu gosto mais é do azedo do limão,
do gosto doce e intenso que esquenta,
como o ardido urticante da pimenta...
Eu gosto do cheiro das noites, no jardim,
das delícias e do gosto do teu beijo,
da pura essência que está dentro de mim,
e que transborda com o fogo do desejo.
Eu gosto mais do sabor do teu sorriso,
gosto de menta, e também de chocolate,
Eu gosto do cheiro do lugar aonde eu vivo,
e do vermelho da maçã e do tomate...
Eu gosto mais do perfume da colheita,
cheiro das uvas maduras, no quintal,
gosto da lua distraída que se deita,
sobre as roupas perfumadas do varal.
Eu adoro sentir cheiro de flor,
da flor da vida que floresce no canteiro,
porque a vida tem perfume e tem sabor,
porque a vida, tem teu gosto e tem teu cheiro....
Este limão está em meu jardim, hoje, plantado em um vaso.
É um limão siciliano!
